segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dream of Me

Querido Rafael,

É bem ridículo estar te mandando essa carta, mas foda-se, eu tô mal e não tem nenhuma testemunha a não ser eu, e potencialmente você.
A verdade é que eu tive um sonho com você e eu não sei o que exatamente isso significa, só sei que eu estou sentindo muito a sua falta, isso soa hipócrita? Porque eu sei que eu transformei sua vida num inferno com minha imaturidade e meus ciúmes descontrolados, mas eu queria saber se isso ainda constitui como uma barreira pra gente não ter contato mais.
É claro que o fato de você ter mudado de cidade também influencia nessa decisão, mas nós crescemos não é mesmo? Crescemos separados, mas ainda assim, algum nível de amadurecimento veio e... Você sabe que eu estou enrolando, não é?
Eu queria dizer que nesse sonho você me dizia que eu ia ficar aqui sentindo sua falta e eu sou orgulhosa, e você sabe disso, poderia ficar aqui falando horas sobre como estar e não estar perto de você é indiferente. Mas hoje, e hoje exclusivamente, eu quero dizer que eu pisei na bola e errei grosseiramente contigo e por causa disso...
Não...
Não é isso ainda.
Eu amo, não, amar é forte demais, eu gosto de você. Como meninas gostam de meninos. E por isso que eu acho que eu sonhei com você, foi um jeito de me acordar, de mostrar que bem lá no fundo eu ainda gosto de você e ainda sinto sua falta.
Céus, eu sinto sua falta todo dia.
Não sei exatamente o que você vai fazer com essas informações, mas agradeço se você chegou até aqui dessa carta, se você leu esses breves momentos de bobagens.
Você dizia que meu problema era ser boba, lembra? Não sei... Acho que isso passou.
O que é bobagem ou loucura pra uns faz muito sentido pra outros e você faz sentido.

"Só" isso...
Sonhe comigo,
                       Micaela

Dream a Little

Foi como se tudo voltasse à minha cabeça, o momento em que tudo desmoronou.
— Não, Micaela, eu não gosto mais de você e não quero te ver mais, por que você não entende isso de uma vez por todas? — ele suspirou amargamente — Eu já te amei, mas não mais, você não compreendeu ainda que eu quisesse, você fez o impensável, duvidou de mim e quis tornar minha vida um inferno, não dá. Eu não aguento mais.
E agora ele estava mais perfeito que nunca, parecia um príncipe e eu fiquei me perguntando porque eu não lutei mais, eu não expliquei. No meio dos meus pensamentos dispersos percebi que ele vinha na minha direção.
— Micaela — ele sorriu vampirescamente — Você por aqui...
— Rafael, você tá bonito.
Ele rodou lentamente, como se estivesse exibindo a roupa que usava.
— Vim de príncipe hoje, Micaela. — ele olhou para cima, o sol fez brilhar os olhos negros do rapaz e seu cabelo loiro — Estou querendo resgatar uma princesa.
Eu ri, não sabia mesmo o que fazer, estava vestida de diabinha (única fantasia que minha mãe havia encontrado de última hora).
— Nossa, então você não devia ficar muito perto de mim, eu posso te contaminar com a minha malevolência. — sorri, apenas pra indicar que era uma brincadeira, não queria dar brechas para brigas.
Ele olhou pra mim um tempo, esboçando um sorriso torto, virou a cabeça e me abraçou:
— Pois eu acho que essa fantasia faz jus à você. — ele parecia seco, mas eu senti a respiração dele, como se estivesse sorrindo.
— Claro que sim, porque eu fico linda de vermelho.
Ele me soltou, acenou que sim com a cabeça e pegou na minha mão, me puxando pra frente das escadas da casa da Manu (a dona da festa).
— Vem, Micaela, eu tenho um presente pra você.
Subi as escadas desconfiada, pensando no que ele poderia me dar. Um tapa, talvez? Ele podia me matar e fazer parecer um acidente? Me jogar do topo da escada como num filme mexicano bem brega.
Quando chegamos no andar de cima, tudo estava cuidadosamente preparado para aquele momento, tudo surreal e minunciosamente preparado para  e eu só posso crer que fosse, um jantar à dois. Ele foi se aproximando da mesa, pegou com uma mão uma rosa e com a outra a câmera:
— Pegue esta flor, até combina com sua roupa. — ele apontou a câmera pra mim — Agora vem cá, Micaela, vamos gravar esse momento. Vamos nos gravar — ele estava assustadoramente entusiasmado, bailando de um lado para o outro até chegar na minha frente — Porque hoje é meu último dia te querendo, meu último dia te amando e eu acho que isso merece ficar bem gravado. — ele foi me conduzindo através do andar — Micaela... Eu amei você, isso não é maravilhoso?
— Não estou entendendo, Rafa.
— Hoje, eu vou te dar adeus, minha querida, eu vou te tirar da minha vida de uma vez... — ele sorriu, e dessa vez eu senti que ele não estava brincando — E você vai continuar aqui... Sentindo minha falta.

                                 Acordei com o coração acelerado e a barriga revirando. Se isso era uma peça do meu subconsciente, só quero deixar claro: eu não gostei...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Oxalá!

Ele olhou pra ela, percebendo exatamente o poder que tinha naquele momento. Foi se inclinando pra ficar exatamente num ângulo que visse a expressão dela, meio confusa, meio hipnotizada.
- Tava lembrando dia desses de quando a gente era pequeno, sabe, que eu costumava derrubar você do balanço, você ficava com tanta raiva de sujar seu cabelo na areia e me olhava de um jeito tão intenso que eu me desmantelava todinho só com aquele seu olhar. - ele riu, imerso em pensamentos.
- Eu lembro que quando eu chegava em casa com o cabelo desarrumado, minha mãe limpava morrendo de rir, dizendo que isso era amor. - ela olhou pra baixo, como se estivesse com vergonha - E eu não compreendia o que ela queria dizer.
Ele olhou pra ela, os olhos semicerrados como se ela tivesse tocado num ponto doloroso.
- Michele...
- Eu sei. - ela suspirou - Nem sempre as mães estão certas, não é? A sua sempre dizia que você ia ser um grande advogado e aqui está você: um famoso escritor, com best-seller e tudo - ela deu um tapinha nas costas dele - As mães se enganam, Pê.
Ele sacudiu a cabeça, como se estivesse voltando à realidade e olhou para ela, que encarava atentamente um pássaro comendo migalhas.
- Mi, eu tô aqui agora.
Ela sorriu, ainda encarando o pássaro
- Aliás, não tem nem como se enganar com algo que nem começou, não é?
- Mi, você tá forçando a barra, não acha? A gente cresceu separado, não tinha como dar certo e se não é pra ser, não pode ser, Mi. Mesmo que a gente se ame, eu fui pra Espanha e você ficou aqui no Rio, curtindo a praia, você tem que entender que a gente era jovem e que nada pode durar pra sempre, pelo menos não por aquele momento, mas agora a gente tá crescido e eu vim aqui, Mi, eu tô aqui...
Ela gargalhou friamente.
- Se supera, Pedro, tô falando da sua carreira como advogado que não começou.
- Ah... - ele soltou o ar - Pensei que você estivesse falando de outra coisa.
Michelle ficou calada enquanto colocava seus óculos escuros para continuar a observar o pássaro que acabara de alçar vôo e passou a mão na areia que a circundava.
Pedro olhava pra ela meio nervoso, meio esperançoso e disse depois de uma longa respiração:
- Outra coisa que eu amava era o nosso silêncio, dizia tanto, né?
- Amava? - ela se virou para ele - não ama mais?
Ele gaguejou algo inaudível e ela continuou:
- Muita coisa mudou, Pedro, e a gente só ficou seis meses distantes. Parece que você estava lá sendo escritor e eu estava aqui... Es... - ela pegou um punhado de areia e deixou escapar liegiramente por entre os dedos sem terminar a palavra.
- Es o quê, Michele?
Ela pensou e falou em um tom um pouco indiferente:
- Estudando, Pedro. Havia uma vida na faculdade antes de tudo. A gente é jovem... - Ela bateu no joelho dele - E a Marina, como foi em Madri?
- Tolerável - ele riu - acho que não gosto mais dela.
- Sério? - ela sorriu
- Sério.
- Fica pra próxima então.
- É sobre isso que eu vim falar, tem outra, ela é daqui do Rio.
- Que bom - ela disse num tom meio seco. - Você tá feliz?
- Você tá?
- Do jeito que você me deixou. Linda, leve e loira. - ela sorriu com o sarcasmo nos lábios enquanto ele murmurou:
- Sério, você tá feliz?
- Oxe, tô! Parece louco, você, às vezes.
- Ah, não é loucura, Mi, é preocupação. Fiquei um tempo me perguntando como a gente sobreviveria longe um do outro no nosso "relacionamento à distância".
- E qual minha nota nesse quesito, senhor?
- Zero, mas a minha também foi. - ele deitou-se na areia e disse calmamente - Deita aqui também, eu tenho uma confissão a fazer.
- Manda! - ela deitou-se com o corpo de lado virada pra ele.
- Foi mal, quer dizer, eu sabia que você gostava de mim antes, que no fundo sempre gostou. Vim me condenando esses anos por não ter te visto antes disso, antes de não poder ter mais você e agora eu estou me condenando por que eu te quero. Talvez seja tarde. Mas isso não seria justo com você porque eu sou um garoto comum e você sempre foi fascinante. Você sempre foi um perigo com suas sardas e sua pele alva, você sempre soube quem eu era e eu amo o fato de não precisar ser ninguém além de mim contigo. E isso, bem, nós, poderia estragar tudo. Eu sempre o faço.
- Eu sei. - ela disse com uns olhos pesados como se carregasse uma cruz. - Eu te conheço.
- Exato, e não entendo como você consegue me amar do mesmo jeito.
A expressão dela era de puro deleite.
- Você está mesmo se desculpando por isso? Soava mais legal na minha cabeça, Pê, você tá arruinando o drama. A gente se conhece tem um tempo, exatamente 15 anos, poupa a sua saliva, eu te perdoei no instante em que você me ligou pedindo pra vir pra cá.
Ele parou e olhou pra cima, apertando os lábios como se buscasse as palavras certas e disse:
- A praia que a gente se conheceu. Custou até percebermos que éramos vizinhos, né? E vinhamos pra cá quase sempre. - nesse instante ele levantou e tirou um caixinha do bolso.
- PEDRO! Você, você tá querendo o quê? Você é um clichê mesmo! - ela riu - Você trouxe um presente pra mim porque me ama. Haha.
Ele arregalou o olho e acenou que sim, entregando a caixa para ela contendo uma pulseira rodeada de pequenos corações e, cada um com uma letra diferente formavam: "Pincesa da praia, me empestou o balde e eu dei meu colação"
- MEU DEEEUS! Foi disso que você me chamou quando a gente se conheceu e eu te emprestei meu balde. Hahaha - ela disse rindo enquanto ele colocava a pulseira no braço dela e depois o abraçou.  - Agora colação forçou um pouco a barra, né, não?
- Te amo, pentelha. - ele a beijou, exatamente no mesmo local onde tudo havia começado.

sábado, 9 de outubro de 2010

Regras;

Eu acredito na ciência.
Eu não acho que sentimentos ou emoções, por mais "essenciais" que sejam são solicitadas à todo minuto, eu vejo as coisas racionalmente, ou pelo menos na maioria das vezes.
Dizer que eu estou desiludida seria o eufemismo do ano. Mas também pudera... Nunca fui do tipo de pessoa que se envolveu com alguém por mais de um mês e quando eu me envolvi de verdade, só me lasquei.
Talvez o amor seja como fadas, você tem que acreditar pra ver. E eu sei que essa foi uma péssima analogia, mas eu ando meio num clima de Peter Pan esses dias.
Quando eu falo amor, eu digo como um todo. Como algo completo que seja completamente egoísta, mas que faça as pessoas envolvidas se sentirem muito bem, eu acredito no amor como a doação quase completa pra outra pessoa e eu amo com intensidade, mas na maioria das vezes eu amo o que é errado, só pra que alguém venha me resgatar de tanta desilusão, tanta merda que acontece e que se faz vista grossa.
Ultimamente eu venho guardando lágrimas, palavras e explosões dentro de mim, então tudo está fervilhando mais do que nunca e eu acho que o que me consolaria era justamente o relacionamento relâmpago que eu mencionei anteriormente, mas enquanto isso não acontece, eu me considero (e com uma parcela de orgulho) um ser humano inflamável, imprevisível.
E o Tom Hansen tinha razão, eu culpo a mídia pela minha desilusão. Porque ela faz a gente acreditar que isso existe, que o amor acontece e tudo termina bem no final, mas a verdade é que quando a gente descobre a verdade, torna-se insuportável ver que você não é a mocinha do filme e que elas existem de verdade.
Dá um nó na garganta só de pensar que esse tipo de amor é algo reservado para poucos ou pra trás das lentes
Dizem que pra toda regra existe uma exceção...
Nunca conheci uma alma excepcional assim.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Libra

Eu não sei porque, mas eu te sinto muito mais longe, praticamente inalcançável. Você se distancia cada vez que eu chego perto e estaria mentindo se não dissesse logo que isso me angustia mais do que tudo.
Por que então eu tento tanto encontrar você? Porque eu não me conformo com o resto que me vem? Por que eu não aceito de uma vez que isso DEVE ser difícil, pro caso de acontecer o contrário eu ficar mais grata.
Acho que o problema tá na gente que nunca se sincroniza por completo, você diz "oi" e eu quero dizer "tchau", você diz que tem esperança e eu te olho com a melhor cara cética do mundo pra dizer que o mundo está completamente perdido. Você parece aquele objetivo de vida que a gente passa por tudo pra alcançar e no final só esmagar e de nada vale ficar se torturando pra sofrer um pouco mais.
Confesso que essa tendência masoquista do meu psicológico de procurar justamente o que me machuca é extremamente danoso, mas confesso que a perspectiva de talvez ver você me curar (best case scenario), ver você perfeito e idealizado é como eu quero que você fique. É patético, mas eu acho que eu te odeio o tanto que eu te amo, e confesso que isso não me incomoda.
O amor e o ódio andam muito próximos e existe um certo equilíbrio em fazê-los com tanta intensidade, é quase poética minha devoção em te ter de vez.
E te odiar, e te amar... É a única conformação que eu consigo viver.
E quem sabe, pelo menos nisso eu consigo me equilibrar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Verdade

A verdade é que eu não reconheço mais aquela menina serelepe e ingênua que acreditou em cada palavra sua, eu não entendo como ela pôde ser tão idiota a ponto de se entregar tanto e não olhar pro mundo que estava à volta dela. Eu me arrependo de ter sido essa menina que te amou loucamente e quis montar o mundo em cima do que você representava.
Porque, convenhamos, você além de idiota, era patético e encantador, mas isso não vem ao caso. Hoje eu sou grata que eu te conheço, pra ver o quanto você mudou, o quanto você evoluiu e não reconhece aquele menino disposto a transpor barreiras pra estar com a mulher supostamente amada.
Nós éramos meninos e agora somos adultos, pessoas conscientes o bastante pra reconhecer que fomos idiotas, que evoluímos, meu querido.
Mas a verdade é que sua mudança foi superficial, mas isso é de se esperar, todas caíam aos seus pés e imploravam seu amor, então você destruiu mais do que foi destruído.
Mas a verdade é que você deixou uma menina ainda aqui dentro que não consegue superar o medo de se expor, se mostrar de verdade e acha ainda lindo segurar mãos.
A mulher nasceu naquele dia, mas não consegue superar todo o dano, querido, mas eu nunca te diria isso.
Não vou fazer doer em você também.

Faithfully

Ai, querido, eu tenho tanto pra te dizer que não sei ao certo por onde começar...
Eu gosto de você, isso é loucura?! Eu gostar de você mesmo com você longe e tão perto.
A gente se parece tanto, consigo sentir isso em todas as partes do meu corpo, eu estou realmente certa de que você foi a pessoa feita sob medida pra mim.
Seu sorriso é hipnotizante, você é lindo e parece sinceramente não ligar pra isso.
Parece que tudo que você é maravilhoso por dentro, você quer deixar apodrecer no interior, só pra deixar você menos deus e mais humano, só pra que todo mundo saiba que por trás de tudo existe um monstro extremamente desapegado e desesperançado.
Eu acho que eu gosto tanto assim de você porque eu te conheço tão bem, mas tão bem, que seria bem assustador pra você.
Nosso relacionamento nunca deve ser transposto por barreiras, nunca daria certo assim, meu bem, você é tão mau que me dá gosto, tão mau que eu preciso conhecer o seu monstro, devorá-lo, sentí-lo em minhas entranhas.
Eu te conheço tão bem porque você, amor, é a exata cópia de como eu soul, como eu me porto e tem tudo pra ser meu porto seguro e eu te adoro, só porque você não sabe disso ainda.
Mas sabe por que eu sei tanto de você? Sabe como eu te encontrei?
Igual procura igual.