quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Dança da Despedida

[Harvest Moon - Neil Young]

Como uma alucinação você surge na minha frente, sem falar uma palavra, me estende a mão e me tira pra dançar.
Eu esperava isso há anos, mas hoje parece tão diferente da expectativa que eu tenho. Balançamos pra lá, pra cá, pra lá pra cá, você vai contando os passos "um, dois, três, um, dois, três" bem baixinho no meu ouvido.
Nada além de eu e você.
Ainda em silêncio você encosta sua bochecha na minha e suspira.
"Nós nos amamos muito"
Eu não tenho força pra responder então só aceno com a cabeça.
Relembro dos momentos que passamos, das risadas, do amor, do carinho, do respeito.
E você se afasta de mim pra me rodar e ri.
Quando voltamos a dançar juntos, voltamos mais distantes.
Como as coisas chegaram aqui?
"Você e eu merecemos algo melhor"
Isso dói, mas é uma dor necessária. Eu sei que é a verdade.
Eu digo que te desejo alguém que te ame como você merece e deseja.
Você une nossos corpos e nossas bochechas de novo e acena com a cabeça.
Eu me afasto de você pra te rodar e rio.
Quando voltamos a dançar juntos, voltamos ainda mais distantes.
"Vou guardar o que foi bonito, lembrar do amor e das boas coisas"
Sinto raiva, amor, satisfação
E por fim
Um beijo na testa
O fim da música
E a aceitação de que talvez não fosse pra ser.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Past

Em restrospecto, eu sei que houveram centenas de sinais. Centenas.
Eu não lhe digo isso pra te confortar, pra fazer com que você se sinta melhor por ter tentado mais, mas sim pra que eu me sinta melhor porque eu senti uma coisa inexplicável.que até hoje me atormenta...
Me deixa assustada, na verdade, as várias maneiras de como você me atinge... Fisiologicamente falando, eu fico inútil, me lembro de você respirando bem perto de mim e pensando que aquele ar era meu também.
Ridículo.
Mas eu tô até aliviada, porque perto de você eu sinto uma necessidade gigante de provar que eu tô bem, pra você ver que não há um osso no meu corpo que sente sua falta, mas isso sempre acaba dando errado e parece que eu tô pior do que a realidade. Alivia porque eu não sinto mais vontade de te mostrar que te ver ainda não me causa um arrepio ou dois, porque vai que você sente eles também, né?

segunda-feira, 3 de março de 2014

Só Nosso

Tem um rio de lágrimas no chão da sala e você o está abastecendo, sentada aí nesse canto... Vem cá, converse comigo e me permita dar-lhe um bom tapa se for por um motivo frívolo ou me permita ajudar-te a abastecer o lago salgado que virou este cômodo.
Como eu sei que você não é de chorar por qualquer coisa, preparo minhas lágrimas e nem ponho rímel na cara que é pra não borrar.
Vem cá, pequena, se aninhe aqui em meu colo e diga o que te aflige, que eu lhe prometo que vai ser um segredo só nosso; olhe em meus olhos e não veja nada além do amor que eu sinto por você e o tamanho da disposição que tenho pra lhe escutar, pois também é tão bonito o jeito que cê fala sobre as tragédias... Como se elas não estivessem te devorando de dentro pra fora.
Explode comigo, porque aqui cê ta segura e a explosão vai ser tão nossa, que só eu vou escutar enquanto você sente seu coração despedaçando.
Quero dizer que meus conselhos não vão ser os melhores, que minhas piadinhas pra animar o ambiente não serão as mais astutas e que se eu olho pro outro lado, eu só tô me certificando que nesse mundo não hajam mais monstros no escuro tentando te fazer mal.
Eu podia mostrar isso pros nossos amigos todos e bater no peito me gabando da ótima amiga que sou, mas isso não seria tão real quanto eu colocar isso o mais escondidinho que eu posso publicar.
Porque esse texto é só seu, nêga.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Cruzes!

Eu rodo sem rumo pela cidade, meu velocímetro diz que eu tô muito rápida e meu sangue diz que eu tô muito alcoolizada, mas eu não ligo... Quando vejo essa cidade, encontro cruzes em todas as partes.
Eu penso que meu carma deve ser fodasticamente horroroso, porque não vejo como eu, que procuro ser tão boa com os outros e os ponho (de vez em quando) na frente de mim mesma, estou sozinha sem ninguém pra se preocupar se eu to muito bêbada, muito confusa, muito rápida. Eu quero um amor só meu, que seja intenso, que seja eterno enquanto dure, que me faça rir, chorar e me faça até sentir uma ponta de ciúmes.
Mas eu rodo pela cidade e em todo bairro eu encontro cruzes de amores que poderiam ter sido e que não foram e elas vão soltando uma farpa no meu coração que tornam ele mais ferido do que já é e eu tenho um medo sincero de que um dia as cruzes findem comigo terminando machucada por amores que nunca aconteceram.
Cruzes!
Espero que não.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pissed

Não consigo nem dizer direito o que eu to sentindo agora, eu quero cometer o maior massacre do mundo e o álcool é o único álibi que eu tenho. Será que vale?
Não consigo superar essa raiva interna de vocês, grudados, longe do meu presente. Nunca pensei que num dia a gente pudesse perder uma amiga e um amor, mas se a vida é assim, que seja!
Quando eu matar vocês, eu vou contar como partiu meu coração cada beijo, cada dança, cada amasso e, isso sim vai ser o golpe final.
Eu não vou parar seus corações, eu vou fazer doer até ele parar voluntariamente.
Então, meus ex-queridos, eu queria mandá-los ao diabo, mas meu álibi não me permitiu ser tão benevolente, então vão pro inferno mesmo.

The Short Tale

Sempre quis contar a história sobre como a gente se conheceu, mas nunca tive certeza se eu poderia descrever tanta grandiosidade, então desconsidere isso como uma página do nosso livro juntos e só permita que eu diga o que eu lembro e como eu lembro, pode ser?
Nosso amigo nos apresentou, na vã esperança de que você fosse ajudá-lo a me conquistar, mas o tiro saiu pela culatra no primeiro cumprimento que a gente trocou, porque nunca duas criaturas se fascinaram tanto logo num primeiro encontro.
Você veio me fazendo perguntas existencialistas, sobre a vida, sobre minhas atitudes, alegando que queria muito me conhecer e entender porque nosso amigo se encontrava tão encantado por mim, mas eu tinha um jeito único de compartilhar o que tava na minha cabeça sem revelar quem eu realmente era (instinto de proteção própria ou só medo, você escolhe) e meu quebra-cabeças se tornou cada vez mais cativante pra você. Logo percebi que seu olhar tinha mudado, havia um tipo diferente de faísca quando a gente interagia e todo o ambiente se modificava pra caber direitinho a tensão que havia entre a gente.
Lembro que numa dessas reuniões, você me levou pra casa e disse que haviam diferentes personalidades em você, que ora você era você, ora Jack, ora Dave e que isso te perturbava de um jeito mais profundo que aquele seu sorriso quis denunciar. Quando eu disse que eu só tinha uma personalidade e que ela era bastante estável na sua instabilidade, você parou de frente pra uma dessas lojas de discos que a gente gostava de entrar e disse, enquanto você me empurrava contra a vitrine que eu tinha outra personalidade, que eu era uma Cinderela e me beijou, sem me deixar ao menos imaginar o que raios aquilo significava.
E eu não queria mais pensar, nem conversar, a gente já fazia isso o suficiente.
Isso pode ser muito diferente na sua cabeça e, claro, eu tô contando a versão mais curta, porque só nós precisamos saber o que é censurado, mas acho seguro dizer que nós acabamos.
Mas eu gosto de ressuscitar você de tempo em tempo só pra te dizer que se eu te inspiro metade do que você me inspira... Garoto, nós tínhamos que estar juntos.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Drinking Habit

A gente começa com uns dois copos de vinho, quando a gente é adolescente idiota e quer quebrar as regras só pra dizer que somos adultos, mas depois de um tempo, a sensação de embriaguez para e só vem os efeitos colaterais do dia seguinte que não são nada agradáveis.
É a primeira vez que a gente jura que nunca mais faz uma coisa que com certeza vai se repetir.
Aí depois a gente cresce, mas só na idade mesmo, porque a cabeça pouco muda, aí a gente começa a beber com os amigos, treinar responsabilidade - e autocontrole - quando é a vez de ser o motorista da vez e a bebida vira uma companheira amável e necessária, só pra dar aquela soltada na galera e a conversa fluir bem mesmo.
Aí começa o jeitinho social de beber, aquela coisa amena, de sexta feira a noite, sábado ou só no domingo, depois de uma semana cão.
Mas aí chega um dia fatídico que alguém, por alguma razão, quebra você e te larga sozinho apertando o replay da história todinha de vocês, pra saber exatamente quando o fim começou e de quem foi a culpa, se você é o único lascado ou se foi uma coisa mútua. Aí isso pega a gente pelo pé e derruba pra gente sentir que não levanta mais.
Aí que começa o hábito - mesmo que um passageiro - porque aquela velha companheira dos happy hours parece que te seda, te pega no colo e diz que tudo vai ficar bem daqui pra frente. Aí, claro, depois de parar, a gente sente aquela dor batendo na gente com um baque e vem efeitos colaterais diferentes: a gente chora, ri, até vomita pra lembrar um pouco de quando a gente era jovem e idiota e depois vem uma sensação de vazio que só quem sente sabe. E o hábito parece algo tentador quando a gente quer largar um problema sem ter que lidar com ele sóbrio, consciente, racional, então a gente bebe até esvaziar tudo que a gente sente de uma maneira esdrúxula que acaba dando certo.
Engraçado como a gente é covarde, né?